Estou de volta...e hoje, especialmente com um texto do qual gosto muito. Na verdade é um livro de Rubem Alves, de quem também sou fã. É impressionante como nos apercebemos de tantas coisas, quando paramos para ler. Realmente,como dizia Drummond, "as palavras têm a chave"...Não dá para nos fecharmos a tanta evidência, não é? Por mais que queiramos, quando a palavra nos toca, é inivitável a reflexão e quiçá...as ações que dela deverá resultar.
Quero muito comapartilhar com vocês esse texto, que na minha opinião é sensacional:
A pipa e a flor
Poucas pessoas conseguiram definir tão bem os caminhos do amor como
Rubens Alves, numa fábula surpreendente, cujos personagens são uma pipa
e uma flor.
A história começa com algumas considerações de um personagem que
deduzimos ser um velho sábio. Ele observa algumas pipas presas aos fios
elétricos e aos galhos das árvores e sente-se triste por vê-las nesta
condição: porque as pipas foram feitas para voar! Ele acrescenta que as
pessoas também precisam ter uma pipa solta dentro delas para serem
boas. Mas aponta um fator contraditório: Para voar, a pipa tem que estar presa numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura na mão de alguém. Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece. Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.
Em seguida, ele narra a história de um menino que confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que
também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras até mais bonitas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia
enfeitiçado. Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto. A flor, por causa dessses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim...
Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz... estava sempre amargurada, querendo saber com o que a pipa estivera se divertindo. A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha... até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Esta história, segundo o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1. A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta
2. A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar... mas nunca mais sorriu
3. A flor, na verdade, estava enfeitiçada... e o feitiço se quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja ou ciúme. Isso aconteceu num belo dia de sol e a flor se transformou em uma linda borboleta e as duas voaram juntas...