quarta-feira, 11 de março de 2009

Gramática, o que fazer com ela ?


Olá, amigos...

Venho falar de um assunto bastante interessante para nós, professores (ou futuros professores - aos meus alunos) de Língua Portuguesa. O que fazer com a "bendita gramática"? Engraçado que sempre me lembro da minha avó dizendo: "Mais vale a prática do que a gramática", na época não entendia o que ela poderia ter contra a Língua Portuguesa...mas hoje sei que não era nada disso.(ainda bem né!)

De acordo com nosso material (cadernos do Professor e do aluno), pudemos observar algumas modificações quanto à inserção mais explícita da gramática nas aulas de Língua Portuguesa. Na minha humilde concepção não há, realmente, como trabalhar a gramática, como algo solto, desvinculado dos textos, da fala, enfim. Lendo uma entrevista de Josué Machado, articulador da Revista Língua Portuguesa, com José Carlos de Azeredo resolvi compartilhar com vocês, algusn trechos que nos trazem uma boa reflexão. Espero que gosteme comentem!


Josué Machado

Em sua moderna e bem fundamentada Gramática Houaiss (Publifolha / Instituto Houaiss, 2008), de acordo com a nova ortografia, José Carlos de Azeredo expõe com clareza o papel da gramática normativa. E realça o fato de que o lugar do padrão da língua não é o de substituto de qualquer variedade usada pelas pessoas, mas o de "um saber a mais, uma competência adicional, necessária ou, pelo menos, útil a novas experiências culturais". Azeredo é doutor pela UFRJ, onde ensinou língua portuguesa de 1970 a 1996. Agora é professor adjunto do Instituto de Letras da UERJ. Publicou o ótimo, porque claro e didático, Escrevendo pela Nova Ortografia (Publifolha, 2008); Iniciação à Sintaxe do Português (1990); Fundamentos de Gramática do Português (2000); e Ensino de Português (2007), estes na Jorge Zahar.

O ensino da gramática ajuda na produção e na compreensão de textos?
A gramática não é só um meio auxiliar no processo de produzir e entender textos, pois é a própria garantia de uma parte fundamental do sentido. Não há língua sem gramática; é dispondo as palavras numa ordem e formando conjuntos com elas no interior dos enunciados que exprimimos ideias e compomos textos. As regras responsáveis por esse 'arranjo significativo' pertencem à gramática da língua. Ensinar gramática é ensinar a organizar as palavras para formar orações, e orações para formar trechos maiores, que às vezes se manifestam na escrita como parágrafos. Se o professor acha que gramática é só nomenclatura, uma camisa de força para enquadrar o uso da língua em um padrão rígido de correção, não está preparado para ensinar gramática.

O ensino da "gramática pela gramática" é também responsável pela dificuldade da maioria em compreender textos?

Precisamos tornar claro o que os críticos do ensino de gramática chamam "ensino da gramática pela gramática". Filosoficamente, a importância de certos conhecimentos se resume na posse deles: até hoje ninguém explicou com precisão para que servem a poesia e a arte. O deleite e a decoração são usos, não a finalidade delas. Pergunta-se, porém, se há conteúdo pedagógico ensinado como conhecimento sem serventia além da posse dele. Não. Quando o aluno questiona o professor, este sempre vincula a posse do conhecimento à sua utilidade. Logo, "ensino da gramática pela gramática" traz em sua formulação a sua própria condenação.

Qual o papel do linguista, nesse caso?

Para ele, pesquisar o funcionamento de um fato gramatical em uma língua é uma forma de conhecer a natureza da linguagem humana. É claro que não é este o objetivo primeiro da escola e nem das famílias que esperam que ela forme seus filhos como cidadãos culturalmente ricos e tecnicamente aptos à vida produtiva. Conhecimento gramatical é algo que todos os que falam uma língua têm; se não, não seriam capazes de se comunicar. Outra coisa é o conhecimento dos termos técnicos e procedimentos de análise que nos explicitam a estruturação da frase e do texto. É preciso desenvolver a sensibilidade do estudante para o funcionamento da linguagem, e isso inclui a compreensão da organização gramatical. Pintores, arquitetos, eletricistas e artesãos se aperfeiçoam com a técnica dos mestres e aprendem a discorrer sobre esse conhecimento. Por que não há de ser assim com os usuários da palavra?

Qual a razão de alunos considerarem chato o ensino do português?

O ser humano é movido a propósitos. A ação que não tem finalidade é vazia de sentido e interesse. Até certa idade ele só se interessa pela atividade que lhe dá prazer imediato. É difícil propiciar isso às crianças, com o ensino gramatical. Com o passar do tempo e certo amadurecimento, o benefício pode até não ser imediato, mas deve estar visível. O envolvimento com a linguagem pela observação de seu funcionamento, da reflexão sobre a relação entre uso e sentido, é estratégia poderosa a serviço da ampliação dos recursos de expressão e compreensão. Cabe a cada professor achar o meio de tornar a reflexão sobre a linguagem uma atividade prazerosa ou benéfica. Sugiro atividades lúdicas, como as concebidas por Rodolfo Ilari no livro Introdução à Semântica: Brincando com a Gramática.

Os jovens perderam a capacidade de textualizar, de unir informações?

Essa queixa já figurava em um livrinho do início do século 20, Livro de Composição, de Manoel Bonfim e Olavo Bilac. Parece que hoje o problema se avolumou, pois é bem maior o número dos que chegam ao fim da formação fundamental e média com tal deficiência. Minha sugestão é que se faça do desenvolvimento das habilidades de leitura e expressão o objetivo de toda a escola, não só da disciplina de português. Todas as áreas dependem dessas habilidades, mas muitos professores acham que não cabe a eles colaborar para que os alunos as desenvolvam.

Que exercício um professor pode adotar para estimular a produção de textos?

As atividades de conversão de textos (dramáticos para narrativos e vice-versa), retextualizações em que se muda o tempo dos verbos (do presente para o passado e vice-versa) ou a pessoa do enunciador (em que o personagem de um relato em 3ª pessoa passa a narrar a história na 1a pessoa) são bem lúdicas e eficazes. Também é interessante a atividade de reestruturação de períodos (de orações independentes para a construção de subordinação, por exemplo). O clássico de Othon M. Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, ainda é o melhor exemplo dessa proposta.

E para estimular a capacidade de interpretar textos e identificar o tema de um escrito?

A melhor maneira é o debate entre estudantes, supervisionado pelo professor. Não há receita, mas o que um texto significa não pode ser confundido com o que motivou seu autor a escrevê-lo, nem com a intenção de sentido que pode estar na cabeça do autor. A interpretação é trabalho que mobiliza os conhecimentos do leitor, as circunstâncias históricas em que se produz o texto e ocorre sua leitura e, claro, o conjunto de procedimentos linguísticos, retóricos, de gênero e de composição que é mobilizado para dar ao texto a forma com que ele chega ao leitor.

4 comentários:

  1. Em português eu falo, "se eu ir ou se eu for" ?

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    1. Olá, a resposta à pergunta que fez é " se eu for"! Obrigada pela visita!

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  2. obrigada por fazer um blog assim que ajude a facilitar a nossa vida. valeu mesmo...

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  3. Eu é que agradeço a sua visita e fico feliz por ter gostado do conteúdo! Bjos

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